MINHA VIZINHA DA DIREITA...
Minha vizinha da direita é engraçada relatando suas jornadas. Ar de graça, sorriso largo. Ela caminha pelos lados cambaleando, acenando para todos. Do interior para a cidade! Pele branca e manchada, meio amarelada. Ela nunca fala a idade, daria uns oitenta, talvez mais...
Dias atrás falara dos sonhos de adolescente: sair do casulo, plantar sementes, ganhar o mundo, viver do sustento. Difícil imaginar sua vida sozinha! Escuta-se murmúrios nas madrugadas, pelas manhãs, à tardinha. Perceptível, igual aos vaga-lumes nas noites...
Fala dos amores, da ausência dos filhos. Do seu grande e pequeno mundo sem cores. Sorrisos artificiais diários, dos mananciais que não mais brotam. Ela canta sozinha, embalando canções de ninar para os ventos. No rosto, saudades ribeirinhas, dispersando nostalgia nas prateleiras...
Minha vizinha é corajosa. Dorme sem companhias, referenciando alegrias quando seu cão lhe protege nas noites seguidas. Sempre de cabeça erguida já enfrentando o diabete. Gosto de vê-la relatando o passado. Jorrando aprendizado...
Ela não gosta de fotos. Tampouco tecnologia. Ela é o passado transfigurando o presente. Já deixou de plantar sementes, vive fantasias. Um dia serei igual a ela, espero. Lembrando a mocidade. Perdido nas cidades criadas. Criando imagens fotográficas...
Admiro-a as poucas vezes que a vejo. E imagino árvores sem folhas, sem galhos, Minha querida vizinha do lado direito. Tem um mundo tão aberto, tão fechado...
--- Risomar Silva ---
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