'EU, O AMOR E ELA' - Chapter One

Robson nascera numa pequena cidadela, na virada do século XX. Desde muito pequeno, mais ou menos aos sete anos de idade, carregara uma voz interior que o esboçava para o vasto mundo das letras. Das rimas e poesias. Onde quer que ele iria, ele via um mundo diferente, frases de todos os tipos estampados nos banners, nos muros rabiscados e palavras confinadas nos seus pensamentos.

A cabeça era puro dicionário. Sempre à procura dos sentidos vários para a vida, para o amor, para as amizades verdadeiras. Ele mal sabia que 'sentidos' seriam esses, afinal, ter dez anos, é uma fase de descobertas de todos os lados. Aliás, Robson , já havia se redescoberto prematuramente, quando aos conhecera Abigail de vista, um ano mais nova. Abigail mudara-se com os pais e irmãos para a casa do lado havia pouco tempo.

Os dois estudavam na escola Princesa Isabel, localizada no bairro Nova República. Eis que esses dois nomes destacados sempre traziam indagações para Robson. Anos mais tarde fora entender que se tratava de dois períodos da História do Brasil. Mas princesa mesmo era Abigail. Sim! Abigail sem sobrenome. Isso pouco lhe importara

Olhos grandes, lábios carnudos. Pele negra, parecido com os negros das antigas senzalas visto nos livros didáticos. Foi amor ao primeiro olhar. Mal Robson contorceu seu primeiro olhar e já sentiu que aquele pequeno coração poderia ser seu. Que dois corações podem fazer uma história com final feliz. Que duas vidas, tornam-se uma quando os olhares se cruzam numa só sintonia. Robson então resolveu escreveu seu primeiro poema:

VOCÊ

Tão desconhecida
Mas que existe aqui
Aqui próximo
A latitude pouco importa
O importante é que existe
E pode se tornar extensa
Tão extensa que...
Desconhecida será pretérito

Robson conversou sozinho:
- Uma semana escrevendo! Mas acho que ficou hiper maneiro. Na primeira tentativa, irei mostrá-la. O título chega a dar calafrios. Eras desconhecidas e já existes aqui dentro do peito. Tornarás extensas ao ponto de construirmos um futuro? Talvez comecemos com uma amizade, é assim que os grandes amores acontecem na televisão!

Mas ela mal o olhara! Ele parecia mais uma das pedras espalhadas no bairro que moravam. O bairro era um verdadeiro pedregulho e difícil tráfego devido aos montantes de pedras jogadas nas ruas. Quando vinha da escola, Robson sempre chutava-as, como se fossem um objeto qualquer, alcançado velocidade variadas a cada resmungo e pensamento.

- Talvez ela olhe, mas finge muito bem! - Pensava Robson.

O tempo mostrou que, não basta apenas um amar e admirar. Tem que haver troca de olhares e mudos mistérios entre ambos, corações palpitando no mesmo compasso. Sutileza ao conversar. Cegueira e mãos suando ao se aproximar.

A beleza de Abgail só se estendia com o passar do tempo. As palavras pareciam mais distantes, devido a falta de contanto dela. Simplificando desilusão para Robson. Foi aí que ele escreveu sobre os ásperos apertos do seu coração. Essa terra que, dizem: ninguém anda! Se alguém anda, sente-se desconhecido em terras estranhas e inexploráveis. Compra de passagem sem destino final, ou indesejado. O coração fala milhares de línguas, mas apenas seu dono as entende. Não adianta muito compartilhar seus desatentos e desamores.

CORAÇÃO?

Meu Coração
Sem Cor
Sem Ação
Mórbido
Diluído
Com presságios
Sem canções
Que não me levam
Olhar inerte
já cansado
Sem Reflexo
Que não é sábio
Que vive
Que não vive
Quebrado

O coração de Robson não parecia coração e sim um furação. Aos doze anos, percebera que duas pessoas quando não conectadas, uma delas morre. Um morte súbita, verídica e infinita. E ele pensou se isso acontecera apenas com ele, ou com a maioria das pessoas que suspirava um amor! Pensara que coração teria que ter cor, cores vivas e brilhantes. A cor seria vermelha! Mas ele imaginava tantas outras cores. Cores alegres e destemidas.

Mas seu coração estava escuro. A cor da escuridão é sombria. Não tem como descrever. Coração devia ser como aço temperado. Imbatível!O dele estava estilhaçado. Quase parando, sem reflexo para as coisas cotidianas da vida. Era o prelúdio em preto e branco. E pensara:

- Por quê pareço desconhecido e ela não me ver com outros olhos, senão esses de 'amigo', amigo distante? Por quê o mundo abraçou-me inesperado de tanta crueldade? Ou eu sou o culpado de não falar do meu amor?

Robson então, tentou fazer alguns rabiscos. Seu quarto era muito pequeno. Nada aconchegante. Seus outros quatro irmãos não eram nada aprazíveis quando se tratava de calmaria quando ele estava escrevendo. Ele devorava as madrugadas. Era sua hora favorita para expressar as palavras que estava para presas. Ele amava dividir seu mundo com um lápis e algumas folhas de papéis em branco. E a vida, era um dos seus principais temas, fora o amor.

PENSAMENTO SOBRE A VIDA

A vida é mesmo assim
Com seus melancólicos horrores
Da capa diária das horas
Da soberba enraizada
Das coisas que se demoram
E dos 'eus' que não se apagam

Os pensamentos sobre a vida vinham-lhe de supetão. E sempre perguntara-se:
- Qual será o sentido disso tudo que sinto? Desse amor que corrói o coração? O que será mesmo o amor? Criei isso ou ele sempre foi inerente a mim? Acho que vivo numa ilusão. Minha fome até diminui e meu peso, nunca aumenta.

Robson tinha agora 14 anos. Ele pediu a mãe para mudar de escola. Não aguentava ver seu amor (era assim que ele pensara) todos os dias, pois isso lhe causava imensa estranheza e aflição. Abigal ficara mais bela com o passar dos anos. Sua mãe lhe levara seguidas vezes para o salão de beleza para que espalhasse sua beleza radiante. O cabelo ficara mais brilhante. Robson amava seus olhos, era a parte que tornara-se mais radiantes e embelezador. Pensando nos olhos de Abgail, Robson escrevera dezenas de poemas, dentre eles, o que ele mais refletia:

PARÁGRAFOS

Às vezes acordo na madruga e
ponho-me a pensar sobre o universo.
O meu universo!
Tão fechado.
Tão inóspito.
Aos meus tímpanos barulhos vários
e à minha inquietude o frio matinal.
Sou levado a filmes que
repetidas vezes já o assisti.
A melancolia e o desespero assombra-me.
às vezes encoraja-me.
Olho para o reflexo embaçado no espelho.
Penso: já não sou o mesmo do café da manhã de ontem.
A cama há muito está vazia, exceto por uma sombra
que durante anos não se achou.
Encontro-me perdido.
Sou uma alma penada com decreto temporário.
Aprisionado.
Não a prisão destinada aos malfeitores.
Quisera fosse.
É a prisão do inacabado.
Do incômodo.
Do inconformismo.

Esse poema resumi como era a vida de Robson aos quatorze anos. Pensativo ao extremo. As palavras, frases pensamentos tinham embaralhado-se. Ela não conseguia encontrar o seu universo particular. Ainda mais quando soube que Abgail, estava a paquerar um outro garoto. Como pode tal prisão?

Pensara! Como um amor, dito verdadeiro, pode ser tão massacrado pelas circustâncias? Robson era agora Senhor de todos os Solitários. Soltava bolhas de sabãos na tentativas de uma delas pousasse nos pensamentos de Abgail e a fizesse mudar da água p'ro vinho. Até criou algumas borboletas para que elas dessem o recado. Dezenas de outras tentativas foram em vão. O sorriso de abgail havia mudado, próximo quando Robson completaria os 16 anos. Já havia se trancado no quarto há muito tempo. A barba e os pelos pubianos começara a aparecer. Escrever era o seu passatempo e cogitar mundos desconhecidos, o seu hobby.

PAREDES

As paredes dizem muitas coisas.
São olhos que rodeiam.
Algumas parecem falar.
Presenciam.
Quando mudamos e elas ficam,
um pedaço fica ali.
Gravado.

Cada parede é um retrato
que tanto presenciou.
E quando se tem uma ligação íntima,
elas fazem parte.
É um velho amigo de infância.
Tantas lembranças vêm.

Algumas estão intactas.
Vigorosas.
Outras caíram.
Rachaduras perceptíveis
quando mal construídas.
Tantas escondem suas vulnerabilidades com tintas.
Têm aquele esplendor aparente,
mas por dentro,
apenas resíduos.

Poucos não a percebem.
Ali.
Parada.
Muda.

O essencial é saber que,
elas permanecem vivas.
Com suas particularidades.
Fazendo parte das nossas vidas.
A maioria delas,
sem importância.

A vida de Robson não tinha tanta importância para sua família. Aliás, ninguém imaginava a luta que travara com o seu eu. Já havia tentado, alguma vezes, pela vida soberba que criara. Estava rodeado de paredes, quase 24 horas por dia. Elas faziam parte da vida dele. Quando ele olhava as quatro paredes, ele imaginava uma dezenas de livros escritos sob a expiração delas. Eram seus melhores amigos. O cabelo crescido e os pelos na barba, afastava quaisquer amizades.

O ensino médio fora uma fase difícil. Robson estudava apenas para passar. Notas baixas, mas que não o reprovavam.

Continua...

Autor: Risomar Sírley da Silva

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