'MELANCIA'

Uma melancia no verão é sempre bom! Nos reunimos na casa do Bitunga. Uns oito moleques. Todos amigos e conhecidos na rua que morávamos. O caminho era rumo a um  melancial de um senhor não conhecido. A fome era maior que a adrenalina que tínhamos. Então íamos de rumo à nossa aventura. O melancial era num terreno inclinado. Ficávamos abaixados, pegando as melancias que encontrávamos no chão. Geralmente todas pequenas e verdes...

Numa dessas aventuras, o dono nos avistou! Grande foi a correria. O cachorro preto e grande era assustador. Não sei ao certo se era muito pequeno, ou se o cachorro era por demais enorme. Mas a correria foi intensa. Algumas melancias verdes nos braços. Acho que foi a última aventura que tivemos para aqueles lados. Melancia verde não tem gosto de nada, a adrenalina, essa sim, tinha gosto...

Pegávamos as cascas restantes e passávamos nas partes pubianas, embaixo dos braços e no couro cabeludo para que eles crescessem. Sem imaginar, não percebíamos que estávamos crescendo no tempo. Retratando nossa história, as mais cabulosas possíveis. As crianças hoje tem diversões diferentes. Nós criávamos as nossas. Matávamos morcegos nos bueiros. Brincávamos de cantigas de rodas, anelzinho, caí no poço, botija, esconde-esconde e outras dezenas de brincadeiras, hoje extintas...

A melhor fase da vida! Não nos importávamos se só tínhamos feijão, arroz e sardinha no almoço. Ou se o jantar, era apenas pão com ki-suque. A cabeça era vazia de problemas e as superstições que encantavam o mundo, nos encantavam e corria na veia. Mas essa fase, que foi dos oito aos doze anos, esfumaçou. Todos ficamos adultos! E tivemos que suportar a dura realidade. Amadurecimento rápido e precoce. Alguns tiveram uma boa vida, a maioria, não conseguira engolir o mundo, com suas montanhas de obstáculos. Tornaram-se alienados. Mas todos lembram da infância dormente e aprazível! Lembranças inerentes à alma, doce como criança, correndo nos olhos nos dias nostálgicos e saudosistas...

Comentários

Postagens mais visitadas